Geral

Fomento Leiteiro Auriverde: Sobresemeadura de pastagens de inverno

Por: Hélio Prestes

Técnico Agrícola – CREA 61526-8

Dep. Técnico Fomento Leiteiro Auriverde.

 

Abordaremos nesse artigo o tema referente à prática da sobressemeadura de espécies anuais de inverno (aveia e azevém), sobre pastagens perenes de verão: tifton, giggs, entre outras. Estamos no início do mês de maio e as previsões são favoráveis para adoção dessa prática cultural, pois as previsões indicam chuvas dentro da normalidade e temperaturas baixas, com geadas leves (fonte: Epagri-Ciram).

De maneira geral, o termo sobressemeadura é usado para descrever a prática de estabelecer culturas forrageiras anuais em pastagens formadas com espécies perenes, normalmente dominadas por gramíneas, ou áreas destinadas à produção de feno, sem destruir a vegetação existente.

As misturas de espécies forrageiras anuais de inverno visam combinar os picos de produção de matéria seca que são atingidos em diferentes épocas, de acordo com a espécie, resultando no aumento da produção e do período de utilização da pastagem e melhoria da qualidade da forragem ofertada. Contudo, em termos práticos, os melhores resultados são observados quando se introduz espécies de clima temperado em áreas de pastagens formadas com gramíneas tropicais.

Como as forrageiras de origem tropical apresentam menor valor nutritivo comparado com as espécies de clima temperado e estão dormentes ou pouco produtivas durante o inverno, as mesmas permitem através da sobressemeadura, associada com manejo apropriado, aumentar a capacidade de suporte da pastagem e melhor desempenho animal, estendendo a estação de pastejo.

A sobressemeadura dessas pastagens com espécies anuais de inverno pode resultar num acréscimo de 75 a 100 dias de suprimento de forragem de alta qualidade no final do inverno e na primavera. O crescimento das culturas associadas pode ser maior do que o observado em áreas isoladas, resultado este obtido pela eficiência na utilização da luz, melhor controle de plantas invasoras, maior resistência a pragas e doenças, e redução da erosão em decorrência da rápida cobertura do solo.

Os resultados de trabalhos conduzidos evidenciam que, a introdução de espécies em áreas de outras culturas, resulta em maior estabilidade da produção entre estações, diminui a incidência de doenças, de pragas e de plantas invasoras, acarretando maior retorno econômico da atividade.

Desta forma, as forrageiras de inverno são alternativas adequadas para a implantação durante o outono, com vistas à utilização no inverno e início da primavera em áreas com quantidade apropriada de chuvas ou, quando é possível, com o uso de irrigação. Há vários benefícios em se estabelecer espécies forrageiras anuais em áreas formadas com gramíneas, podendo-se destacar:

- Aumento na produção de matéria seca;

- Aumento na qualidade da forragem;

- Melhoria na fertilidade do solo com a incorporação de nitrogênio e matéria orgânica;

- Maior potencial de rebrota da espécie de gramínea na primavera e;

- Controle de plantas invasoras.

Muitas espécies forrageiras de inverno têm crescimento mais ativo no final do inverno/primavera, representando uma limitação quanto à sua utilização, em resposta à redução do déficit alimentar, normalmente já instalado no final do outono e início do inverno.

Dentro desse panorama, pode-se usar a combinação de cereais de estação fria, como centeio e aveias, que são materiais mais precoces, com azevém, que é um material mais tardio, características que podem ser consideradas quando se visa a obter forragem ao longo de todo o período hibernal. Com relação à época de semeadura das espécies de inverno, deve-se observar o período no qual ocorre a queda na temperatura noturna, que reduz a competição das espécies de estação quente.

A introdução de espécies de inverno em áreas de grama bermuda (Cynodon dactylon (L.) Pers.) apresenta resultados satisfatórios se a competição entre as espécies for mínima. Todavia, quando se analisa a época de semeadura, no final do outono, pode ocorrer deficiência hídrica, que limita o estabelecimento das espécies de inverno.

Fatores que podem causar insucesso na sobressemeadura

Inúmeros fatores podem resultar em insucesso dessa técnica, principalmente, quando não se remove a forragem oriunda do crescimento das plantas perenes acumulada durante o verão e outono antes da semeadura das espécies de inverno. Além desta, pode-se citar, a escolha das espécies, a falta de contato da semente das espécies de inverno como solo, a deficiência de água e de nutrientes, a competição de invasoras e a épocas de semeadura.

As seguintes recomendações devem ser consideradas para se garantir o sucesso da implantação de espécies em áreas de pastagens estabelecidas:

- Utilização de espécies adaptadas a região e sementes de alta qualidade;

- Uso de sementes de leguminosas inoculadas adequadamente;

- Avaliação da fertilidade do solo e época de semeadura apropriada;

- Semeadura com quantidade adequada de sementes;

- Garantir o contato solo-semente;

- Controle da competição da vegetação existente e;

- Controle de pragas e doenças.

Espécies.

Um aspecto de suma importância é a escolha da espécie, ou espécies a serem introduzidas, pois se deve observar a adaptação às condições edafoclimáticas do local, e também a disponibilidade, ou mesmo a viabilidade econômica de uso da irrigação. Tem-se a possibilidade de se implantar diferentes espécies de inverno, mas é necessário avaliar a adaptação às condições de clima e de solo da região.

Redução da competição.

O controle da vegetação existente é fundamental se para garantir o sucesso no estabelecimento das espécies de inverno. Falhas no controle da vegetação é sem dúvida, a principal causa para insucesso desta técnica. A redução da competição da vegetação pode garantir melhores condições para a germinação das sementes das espécies introduzidas através do melhor contato solo-semente, e também por permitir condições apropriadas para o desenvolvimento da plântula. A redução da competição da vegetação existente pode ser feita de várias formas, destacando-se:

- Pastejo pesado;

- Corte e remoção da forragem;

- Uso de herbicidas;

- Preparo mínimo do solo e;

- Combinações destas práticas.

A seleção de um método, ou de métodos para o controle da vegetação dependerá de vários fatores, incluindo a quantidade e tipo de forragem existente na área e as espécies que serão semeadas. Segundo estes autores, quando o estande é controlado com herbicidas, o suprimento de alimentos e o habitat da população de insetos são reduzidos drasticamente. Desta forma, as plântulas das espécies introduzidas passam a ser o único alimento disponível, necessitando, às vezes de se proceder ao controle dos insetos.

Contato solo-semente.

Deve-se considerar que existem muitos métodos para se proceder a sobressemeadura, que vão desde o uso de distribuidor de calcário até as semeadeiras apropriadas para a semeadura direta ou cultivo mínimo. O estabelecimento do contato solo semente é fundamental para obtermos sucesso na implantação das espécies de inverno. Dessa forma, o preparo do solo é de fundamental importância para o sucesso da implantação.

A utilização de equipamentos que removem a vegetação e fazem pequenos sulcos proporciona condições apropriadas para a germinação. Segundo esses autores, um preparo de solo apropriado é requerido para eficiente implantação de leguminosas, pois estas são mais sensíveis do que as gramíneas no estabelecimento.

Várias práticas podem ser usadas para a renovação da forragem a fim de garantir condições apropriadas para a plântula se estabelecer, incluindo redução da competição inicial com a espécie existente. A vegetação original da pastagem pode ser removida pelo pastejo ou através do corte, e o novo crescimento pode ser parcial ou totalmente controlado com o uso de herbicidas, permitindo a substituição da vegetação.

Segundo Nabinger (1980) o método mais comum para a introdução de espécies de inverno, consiste na fertilização e semeadura sobre o solo levemente movimentado, pastejo pesado ou uso de herbicidas. Dependendo da agressividade da vegetação, tais tratamentos poderão ser dispensados e apenas o cultivo mecânico será suficiente.

Época de semeadura.

Em termos de época de semeadura das espécies de inverno, deve-se observar o período no qual ocorre a queda na temperatura noturna, o que reduz a competição das espécies de estação quente. A introdução de espécies de inverno em áreas de grama bermuda (Cynodon dactylon (L.) Pers), apresenta resultados satisfatórios se a competição entre as espécies for mínima.

Todavia, quando se analisa a época de semeadura, fim do outono, pode ocorrer deficiência hídrica o que limita o estabelecimento das espécies de inverno. Nas condições do Brasil Central, deve-se proceder a semeadura das espécies de inverno até meados do outono (abril), quando ainda se observa ocorrência de chuvas. Semeaduras mais precoces, quando as espécies de verão ainda estão em pleno crescimento, resultam em implantação deficiente.

Nas condições de clima temperado o trevo encarnado pode ser semeado em áreas de gramíneas na primeira metade do outono, dependendo do local e do uso. O atraso na semeadura até que as gramíneas de verão estejam dormentes é desejável, resultando em decréscimo na competição por água e nutrientes. Deve-se considerar que a semeadura das espécies de inverno no outono, não permite pastejo nessa estação ou no início do inverno.

A quantidade da forragem produzida das espécies de inverno aumenta rapidamente a partir de meados do inverno e começo da primavera. A produção das espécies de inverno continuará alta, até que se inicie o crescimento das forrageiras de verão, quando aumentam a competição por fatores ambientais. Um fato de extrema importância que deve ser considerado, é que a rebrota das espécies de verão pode ser prejudicada se ocorrer acúmulo de forragem oriunda das forrageiras de inverno durante o crescimento do fim da primavera.

Fertilidade do solo.

No cultivo de espécies forrageiras de inverno, é importante observar a fertilidade dos solos, pois se trata de espécies exigentes. Estudos relatam que a deficiência de nutrientes dos solos é uma das principais causas da baixa produtividade dos trevos. A aplicação de nitrogênio é de fundamental importância para o rápido crescimento das plantas, além de influenciar o conteúdo de proteína da forragem.

A quantidade e a época de aplicação variam de acordo com as plantas e sistema de utilização (pastejo, produção de feno, ensilagem). As quantidades e esquema de aplicação de fertilizantes variam em relação às plantas, intensidade do manejo e fertilidade do solo.

Considerações Finais

Na adoção de tecnologias que visam intensificar a exploração de pastagens para a produção pecuária, deve-se avaliar sempre os aspectos técnicos e econômicos. Nas condições edafoclimáticas do Sul do Brasil, a introdução de espécies de inverno em áreas de pastagens de gramíneas tropicais pode ser uma alternativa viável para amenizar os problemas decorrentes da estacionalidade da produção de forragem, prática que tem comprovada eficiência nas condições sul-brasileiras.

Neste sentido, deve-se analisar cuidadosamente os aspectos relacionados a ocorrência de chuvas, espécies a serem introduzidas, fertilidade do solo, necessidade do uso de irrigação, equipamentos para semeadura e controle de pragas e invasoras. Sem dúvida, o sucesso da utilização desta prática dependerá do manejo a ser adotado, uma vez que a mistura de forrageiras resultantes da sobressemeadura tem requerimentos específicos.

Os trabalhos revisados evidenciam as vantagens agronômicas, nutricionais e econômicas da sobressemeadura, principalmente se forem considerados os aspectos relacionados à conservação do solo e incorporação de matéria orgânica nesse sistema.

Referências

FLOSS, E.L. Manejo forrageiro da aveia (Avena sp) e azevém (Lolium sp). In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS, 9., 1988, Piracicaba. Anais...Piracicaba: FEALQ, 1988. p.231-268.

FONTANELI, R.S., JACQUES, A. Melhoramento de pastagem nativa com introdução de espécies temperadas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, 26(10): 1787-1793, 1991.T

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