Geral

Fomento Leiteiro Auriverde: Período de transição das vacas leiteiras – cuidados favorecem a sanidade e aumentam a produtividade

 

Definição:

Período de Transição é definido como as 3 semanas que antecedem e as 3 semanas posteriores ao parto da fêmea bovina. Este período tem relevância pois ocorrem diversas alterações metabólicas e hormonais com impacto sobre toda a lactação. Dentre estas alterações, destacamos duas grandes mudanças na vida do animal:

 - A primeira é a transição de um estado em que a vaca está gestante e não lactante para um estado em que ela estará vazia e lactando, ou seja, a vaca passa de uma fase que está gestando um feto, mas não está produzindo leite, para um período em que estará vazia, porém com uma produção crescente de leite;

- A segunda mudança é na dieta. A vaca passa de um período pré-parto, onde as necessidades nutricionais são menores e ela está sendo mantida basicamente com volumosos, para um período em que terá grandes necessidades nutricionais, passando a receber concentrado e volumes maiores de volumosos, necessários para atender a crescente produção de leite.

Estas mudanças abruptas nas exigências nutricionais e metabólicas deixam a vaca extremamente susceptível a doenças, sendo que neste período é documentado a maior incidência de doenças.

Importância:

As bruscas alterações hormonais, metabólicas, nutricionais, reprodutivas e produtivas do início de uma nova lactação, acabam determinando que este período tenha enorme importância na vida da vaca leiteira. É nesta fase que ocorre a preparação para o parto e para a futura lactação.

Uma vaca que teve um período de transição inadequado terá menor produção de leite durante toda a lactação, terá pior desempenho reprodutivo e terá saúde mais fragilizada.

O manejo adequado durante o período de transição, trará menores riscos de doenças no pós-parto e possibilitará melhores resultados produtivos e reprodutivos, tudo isso resultando em aumento na produtividade e rentabilidade desta vaca durante toda a lactação.

Consequências:

É no período de transição que ocorrem ou iniciam a maioria dos problemas e doenças da vaca leiteira. Hipocalcemia, retenção de placenta e endometrite (infecção de útero), mastite, cetose e fígado gorduroso, deslocamento de abomaso, acidose subclínica e laminite, são alguns dos distúrbios comuns a este período. Estudos indicam que 25% das vacas apresentam problemas reprodutivos ou de saúde geral neste período. Vale ressaltar que todas estas doenças tem uma inter-relação, ou seja, se ocorre uma destas enfermidades, há maiores chances deste animal desenvolver uma segunda doença concomitante.

Nas 3 semanas anteriores ao parto, o consumo de alimentos da vaca cai em média 32%, sendo que 90% desta queda ocorre na última semana. Além disso, quanto maior a queda do consumo no pré-parto, mais lenta é a recuperação do consumo no pós-parto, ou seja, quanto menos a vaca come no pré-parto, mais lentamente ela vai aumentar o consumo após parir.

Geralmente, o que a vaca vai comer no pós-parto é diferente do que ela estava consumindo no pré-parto, sucedendo uma mudança de dieta. Ocorre que em qualquer mudança na alimentação, a microbiota (micro-organismos) do rúmen, levam de 15 a 21 dias para se adaptarem à nova base alimentar. Por isso a importância de uma dieta de transição.

Vacas gordas ou magras ao parto, é indicador de maiores riscos. As vacas magras terão uma menor produção de leite. Já vacas gordas terão maiores chances de desenvolver doenças, principalmente cetose, deslocamento de abomaso e redução na produção de leite. Também observamos na prática, que as vacas gordas perdem mais peso no pós-parto. Esta perda exacerbada de peso também prejudica as células do sistema imune dos animais, e com isto, há maior desenvolvimento de doenças.

Na fase inicial da lactação, o aumento na produção de leite é mais rápido do que o aumento no consumo de alimentos: um dia a vaca está seca e no dia seguinte a vaca estará lactando e com uma rápida progressão na produção de leite. Com isso a necessidade de nutrientes aumenta mais rapidamente do que a vaca consegue aumentar o consumo; isso faz a vaca entrar num período de balanço energético negativo, ou seja, come menos do que precisa, perde peso, perde produção e perde saúde. A falta de adaptação à nova dieta agrava esse problema.

Outro distúrbio importante que a vaca estará suscetível é a hipocalcemia (“descalcificação”, “vaca caída”). A hipocalcemia ocorre quando a quantidade de cálcio disponível no sangue é insuficiente para suprir a alta demanda de cálcio para o colostro. A maior parte do cálcio está retido nos ossos e a vaca precisa se adaptar para reabsorver este cálcio do osso e disponibilizar no sangue, para que não ocorra a hipocalcemia.

Destacamos, que nem sempre a vaca com hipocalcemia irá cair. A maioria das vacas desenvolve hipocalcemia subclínica, ou seja, o nível de cálcio no sangue está abaixo do normal, mas a vaca ainda consegue se manter em pé. O problema da hipocalcemia subclínica é que ela aumenta o risco de retenção de placenta, mastite, menor consumo, cetose e outras complicações.

A ocorrência da hipocalcemia também está relacionada a quantidade de potássio na dieta do pré-parto. Pastagens de inverno (aveia e azevém) e pastos bem adubados tem um valor alto de potássio. Se os animais consomem estes pastos, aumenta a concentração de potássio no sangue, o que dificulta a reabsorção de cálcio dos ossos.

A hipocalcemia é importante fator de risco para o desenvolvimento de outras doenças. Uma vaca com hipocalcemia subclínica, tem 2,8 vezes mais riscos de ter dificuldade de parir; 6,5 vezes mais risco de retenção de placenta; 4,8 vezes maior risco de deslocamento de abomaso, 8,9 vezes mais risco de desenvolver cetose e 8,1 vezes mais chances de ter mastite. Todas estas doenças irão determinar uma menor produção de leite e uma baixa fertilidade, em alguns casos podendo chegar até a morte do animal.

Aliado a tudo isso, a imunidade da vaca também cai neste período, fazendo com que ela fique mais suscetível às doenças. Fatores de estresse como falta de sombra, calor (estresse térmico), superlotação e competição, mudança de local, dificuldade de acesso à água ou terreno muito úmido, inclinado ou pedregoso, diminuem ainda mais a imunidade, fazendo com que o risco de distúrbios seja grande, sendo a retenção de placenta o problema mais comum.

Recomendações:

Com base na importância e nos desafios do período de transição, passamos algumas recomendações de manejo para esta fase:

Controlar a condição corporal:

O ideal é que a vaca tenha um escore de condição corporal intermediário ao parto, entre 3,0 a 3,25. Porém é desaconselhável fazer alteração de escore durante o período seco; fazer uma vaca emagrecer próximo ao parto, poderá agravar os problemas a que a vaca está predisposta.

O ideal é acompanhar o escore durante toda a lactação e evitar que esta vaca engorde durante o período. Isso é possível com uma dieta equilibrada, emprenhar a vaca no início da lactação e, em alguns casos pode-se utilizar algumas ferramentas como o BST (Boostin®, Lactotropin®) buscando aumentar a produção de leite e auxiliando no controle do escorre corporal.

Prover uma nutrição equilibrada:

As vacas diminuem muito o consumo nas semanas que antecedem o parto. Além disso, as necessidades de minerais e vitaminas, também são específicas para esta fase.

É recomendável que no pré-parto a base alimentar formada basicamente por silagem e feno ou pré-secado, evitando aveia, azevém e pastos muito tenros. Além disso, para suplementar a dieta, é importante o fornecimento de concentrado, iniciando com um pequeno volume aos 21 dias pré-parto e aumentando gradativamente até chegar em 3 a 4 quilos de ração por dia, dando tempo para os micro-organismos do rúmen se adaptarem à nova fonte alimentar. Fazer a adaptação à nova dieta, melhora ao digestibilidade dos alimentos e reduz o risco de acidose.

O fornecimento de uma dieta aniônica, com valores minerais e vitamínicos específicos para esta fase, promove a prevenção da hipocalcemia, facilita a liberação da placenta, melhora o estado imune da vaca e a resistência às doenças. Outros aditivos, como levedura, monensina, metionina, colina, também tem seus benefícios comprovados e podem trazer benefícios.

Para atender a demanda distinta de minerais e vitaminais, é importante que o concentrado seja uma ração pré-parto, de qualidade e procedência, com valores nutricionais corrigidos para as necessidades da vaca. Quem não quiser usar a ração, poderá usar um sal pré-parto, que também possibilita bons resultados. Importante destacar que o fornecimento de ração ou sal pré-parto deverá ser suspenso imediatamente no momento em que a vaca parir.

Disponibilidade de espaço, sombra e água:

O estresse térmico é um importante causador de complicações para as vacas, em qualquer fase, sendo mais desafiador no período de transição. Disponibilizar à estas vacas ambiente fresco, com muita sombra, ou com resfriamento para vacas confinadas, é extremamente importante para diminuir problemas e gerar melhores resultados.

Água também é fator limitante, devendo estar disponível em quantidade, qualidade e com facilidade de acesso, todo o tempo.

Deixar estes animais em terrenos secos é importante para reduzir os casos de mastite e diminuir a CCS do rebanho.

Parto:

O momento do parto deverá ser um momento tranquilo para a vaca, sem a presença de pessoas ou outros animais.

Fazer intervenções somente quando extremamente necessário, ao verificar que a vaca não conseguirá parir sozinha, por tamanho do feto, posição fetal ou outra ocorrência.

Conclusão:

Encerrando, vamos lembrar de duas frases citadas pelo palestrante do Simpósio de Leite da Auriverde, Sr. Nivaldo Michetti: “Se der à vaca o que você quiser, quando e quanto você quiser e onde você quer, a vaca produzirá o leite que ela querer (“puder”). Se você der o que a vaca necessita, na quantidade que ela precisa, na hora e local que ela espera, ela produzirá o que o produtor almeja”. Então vamos oferecer às nossas vacas às condições que elas necessitam, para elas nos proporcionarem os resultados que nós buscamos!!!

E não esqueçamos: “Vacas especiais, merecem cuidados especiais!!!”.

 

Fontes:

1.  Material didático “Manejo e Alimentação de Vacas em Transição” – Prof. Rodrigo de Almeida, 2013;

2. Resumos do 5º Simpósio Internacional Leite Integral – Período de Transição – Curitiba, 2015;

2.  Material didático “Período de Transição” – Prof. Bolivar Nóbrega de Faria, 2016

4.  HULSEN, Jan; DRIESSEN, Joep. Cow Signals – um guia prático para manejo de fazendas leiteiras. Editora O2, Belo Horizonte, 2016.

5.  BURKE, C.R.; MEIER, S.; MCDOUGALL, S.; COMPTON, C.; MITCHELL, M.; ROCHE, J.R. Relationships between endometritis and metabolic state during the transition period in pasture-grazed dairy cows. Journal of Dairy Science, Savoy, v.93, p.5363-5373, 2010.

 

Autor: Ildoacir Variani, Médico Veterinário, Pós-graduado em Pecuária Leiteira, Rehagro/UPF, 2012; Reprodução de Bovinos Leiteiros, Rehagro/FAZU, 2015; Nutrição de Bovinos Leiteiros, Rehagro/FAZU, 2016.

Revisão: Guilherme Mattos Leão, Médico Veterinário, MSc., Doutorando em Zootecnia (UFPR)

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