Geral

Fomento Leiteiro Auriverde: os desafios da produção de leite na região sul do Brasil

Por: Thiago Zardo

Zootecnista

Dep. Técnico Fomento Leiteiro Auriverde

 

A nossa região tem um grande potencial de produção de leite, devido a um clima sem estiagens, um sistema de produção a pasto e mão de obra familiar, proporcionando um potencial de produção com baixo custo, em propriedades pequenas, com grande retorno financeiro por hectare de terra.

Não é preciso um grande investimento ou estrutura para se tornar um produtor de leite, as famílias começam com um reduzido potencial de produção e vão crescendo aos poucos, se estruturando e podendo aumentar seu rendimento. No entanto, ainda existem muitos entraves que dificultam o sucesso da atividade na região, pois ainda prevalece a cultura do baixo investimento na propriedade. Além disso, o produtor administra muitas atividades e nosso padrão de qualidade precisa melhorar muito.

 

Investimento

Um grande desafio para aumentar a produção de leite no Brasil, é a mudança de cultura, onde a maioria dos produtores é de pequenas propriedades e tentam produzir com pouco custo e investimento, muitas vezes por causa de baixa renda na propriedade, outras por medo de perder o que foi investido, devido a instabilidades no mercado. Para aumentar a produção é preciso dar mais incentivo ao produtor de leite para ele investir, sem esquecer o apoio técnico para fazer uma produção mais eficiente e lucrativa.

O governo deveria dar mais apoio e incentivo para o crescimento do produtor, com programas governamentais que ajudem ao produtor melhorar sua infraestrutura e rebanho. Se as empresas que compram o leite conseguissem estabilizar o preço, também daria mais segurança ao investimento do produtor. Assim, todo o investimento feito na propriedade precisa de uma análise de sua viabilidade, retorno financeiro e se o mesmo está dentro do orçamento da propriedade.

 

Mão de obra

Hoje, esse é o ponto que mais preocupa sobre o futuro da atividade na região, devido à grande parte dos filhos de produtores estarem saindo estudar e trabalhar fora da propriedade. O que precisa ser feito é dar mais incentivo a esses jovens para ficar na propriedade, demonstrando a eles o valor do que tem investido e a capacidade de renda da propriedade. Para isso é preciso deixá-los participar da gestão e divisão de lucros da propriedade, mostrar a evolução e o potencial da propriedade, assim demostrando que eles podem conseguir uma renda igual ou superior que um trabalho externo.

 

Foco

Outro ponto a se destacar, principalmente em nossa região, é que o produtor desenvolve várias atividades na propriedade, e assim, muitas vezes não sendo eficiente em todas as atividades, principalmente pela falta de mão de obra. No campo vemos vários relatos dos motivos pelos quais o produtor não foca na atividade de bovinocultura leiteira.

Alguns apenas não gostam da atividade, acham que ficam muito presos à propriedade sem poder se ausentar, além da falta de mão de obra, poucos hectares para implantação de pastagens e silagem, mas muitos não vêm como atividade muito rentável devido à falta de eficiência e de organização na propriedade.

Por outro lado, produtores que focam e fazem uma ou duas atividades bem organizadas, sempre vem crescendo na produção de leite e pensam em aumentar sua eficiência cada vez mais. Algumas atividades podem contribuir para o sucesso da outra, como o suíno ou frango que fornece adubo para as pastagens do gado, no entanto é preciso avaliar o quanto de mão de obra tem disponível na propriedade.

Com isso, cada atividade realizada precisa de alguém responsável por ela e uma grande dedicação e tempo para que ela seja bem sucedida e traga renda para a família.

 

Pastagem

O sistema a pasto é um grande aliado dos nossos produtores, devido ao baixo custo de produção, no entanto, os produtores ainda precisam investir e organizar mais sua estrutura de pasto.

Muitas falhas são encontradas no sistema a pasto, onde ainda vemos muitos produtores ficarem meses sem pasto para os animais, plantas invasoras degradando pastagens, a baixa adubação do pasto, lotação errada ou pouco manejo de roçada. Para que se possa melhorar a eficiência do sistema de pasto é preciso passar por manejos diários, que ajudem a manter os pastos sempre com boa qualidade e quantidade.

Para melhorar a eficiência do sistema pode ser guardado o excedente de pasto roçado, na forma de feno e feito a sobressemeadura de pastagens de inverno sobre as pastagens perenes. Sempre tendo uma boa oferta de silagem para suprir as épocas de vazio de pastagens e de estresse calórico, onde os animais reduzem o consumo de pasto.

 

Balanço nutricional

A nutrição dos animais ainda passa por graves erros, principalmente no que diz respeito à falta de balanço nutricional dos animais. Como o sistema é baseado em baixo custo, na maioria das propriedades, um erro comum é tentar poupar em alimento, tentar criar animais de alta produção em sistemas com baixa inclusão de concentrado. Isso pode trazer vários problemas futuros para a propriedade, como na reprodução, sem falar na perda de produção dos animais, que poderiam produzir mais leite por lactação.

Esse balanço nutricional tem que ser feito de acordo com o alimento que o animal tem disponível para consumo e com sua produção de leite. O que vemos frequentemente no campo é a falta de balanceamento entre energia e proteína na dieta, aparentemente o animal pode se conservar com bom escore corporal, mas sua produção está limitada. Erros na mineralização pode trazer graves consequências em relação à reprodução e imunidade do animal também.

 

Gestão

Muitas vezes os bovinos de leite são tachados por não trazer retorno financeiro à propriedade, no entanto, em avaliações econômicas vemos que o senário é diferente. Para comprovar que uma atividade é rentável, é preciso realizar um controle de custos e gestão do quanto essa atividade traz de retorno. Uso de planilhas de entradas e saídas de dinheiro podem auxiliar no controle, ajudando o produtor, a saber, se a atividade é viável e o quanto ele pode investir ou gastar, assim prevenindo falhas econômicas na propriedade.

 

Qualidade

Nossa região perde muito em qualidade, ás vezes pela forma errada de manejo de ordenha e limpeza, baixa taxa de reposição do rebanho e dificuldades de manejo sanitário, como muitos casos de mastite. Muito ainda se perde devido ao barro, que é um desafio da nossa região, devido ao clima chuvoso do inverno, esse barro dificulta a limpeza dos tetos dos animais e ainda contribui para multiplicação de bactérias.

Mas a dedicação e atenção a essas falhas pode melhorar muito qualidade, com apenas alguns ajustes na ordenha e ambiente que esses animais são deixados. Ainda precisamos melhorar a genética e nutrição dos animais para produzir um leite com maior proporção de sólidos, assim atingindo um padrão de qualidade exigido para exportar nosso leite e garantindo uma melhor renda por litro de leite produzido.

O técnico que visita o produtor é um grande aliado para o sucesso da atividade. Sempre trazendo novidades, melhores manejos e tentando melhorar a eficiência produtiva e econômica. Hoje não temos um produto milagroso que resolve os problemas da propriedade, o que faz a atividade eficiente é um bom manejo, gestão, organização e dedicação em produzir mais, melhor e com maior lucratividade.

A região sul do Brasil tem um grande potencial de produção de leite, ainda tem muito o que crescer, principalmente em eficiência produtiva e melhoria em genética e nutrição do rebanho, mas tem um clima favorável e muitas propriedades rurais que podem aumentar sua produção e qualidade de leite. Sem meses de seca, só precisamos ajustar o nosso sistema de pasto, conciliando pastagens perenes, anuais, produção de milho para silagem e produção de feno.

Se formos eficientes em produção de alimento e receber mais incentivo para produção, acredito que o problema de mão de obra possa ser resolvido, mostrando propriedades eficientes e lucrativas, fazendo com que muitos trabalhadores possam permanecer e voltar a atividade de bovinos leiteiros.

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