Geral

Fomento Leiteiro Auriverde: Importância da fibra na dieta de bovinos leiteiros

Por: Thiago Zardo

Zootecnista

Dep. Técnico Fomento Leiteiro Auriverde.

 

A grande vantagem de um animal ruminante sobre outros animais é a capacidade de digerir fibra, extraindo nutrientes, principalmente energia. A fibra é essencial, já que os ácidos graxos voláteis (AGV) produzidos pela fibra durante a fermentação ruminal são as principais fontes de energia para o animal. Isso só é possível graças à ação das bactérias presentes no rúmen, por isso o ambiente ruminal precisa ser favorável para essas bactérias.

O balanceamento e qualidade da dieta, equilíbrio entre fibra e concentrado, são indispensáveis para o bom funcionamento do rúmen, sempre aliados ao tamponamento e controle de pH no rúmen. Quando ocorre alguma falha na dieta, perdendo o equilíbrio e bom funcionamento do rúmen, o pH pode baixar prejudicando o funcionamento e crescimento de bactérias no rúmen. O uso de tamponantes comerciais ajuda no controle do pH do rúmen. No entanto a saliva do animal é a maior fonte de tamponante disponível e as fibras estimulam a ruminação e produção de saliva, por isso o fornecimento adequado de fibra é essencial.

As fibras são classificadas em FDA – fibra em detergente ácido e FDN – fibra em detergente neutro, que é a fração nutricional correspondente à soma de hemicelulose, celulose e lignina. Destes, sabemos que a hemicelulose tem alta digestibilidade, a celulose tem digestibilidade variável (afetada principalmente pela maturidade das plantas) e a lignina é praticamente indigestível. A fibra em detergente ácido (FDA) é a fração correspondente a soma de celulose e lignina. Uma planta que passa do ponto de corte, chegando ao estágio de maturação e liberação de semente, é uma planta que possui teor de fibras indigestível muito alto.

Fibras de partículas pequenas, de rápida passagem e digestão pelo rúmen, podem ser muito boas em relação ao aspecto nutricional, mas elas não ajudam muito na motilidade do rúmen e ruminação, pois logo passam pelo rúmen e vão para o restante do sistema digestivo. Fibras com partículas maiores e de digestão mais lenta vão se acumulando no rúmen formando uma “cama” de fibra que estimula o processo de ruminação, diminuindo a taxa de passagem de fibras menores e melhorando o aproveitamento das mesmas.

Essa fibra estimula a ruminação e mastigação do alimento, o que diminui o tamanho de partícula e aumenta a produção de saliva, que é rica em bicarbonato de sódio (tamponante), ajudando assim no controle do pH do rúmen. Essa fibra é classificada como FDNfe (FDN fisicamente efetivo), com tamanho de partícula acima de 8 mm. A recomendação básica é que as dietas de vacas em lactação devam ter entre 14% e 18% de FDNfe para manutenção do pH ruminal e do teor de gordura no leite.

No inverno temos uma grande oferta de forragens e devido ao conforto térmico dos animais eles consomem mais forragens verdes. Esse maior consumo de forragem nem sempre é bom, pois pastagens de inverno possuem fibras de rápida passagem pelo rúmen. Por este motivo é que rotineiramente vemos problemas de diarreia em animais consumindo pastagens de inverno, podendo ter casos de pré-acidoses e uma digestão menos eficiente dos alimentos ingeridos. O que pode ajudar a melhorar a eficiência das dietas no inverno é o uso de uma fonte dessa fibra com alto FDNfe, como o feno, pré-secados, palhas, pastagens secas, entre outros.

Essas fibras vão ajudar na ruminação, controle de pH e prevenção de acidose, mas sempre precisamos ficar atentos a qualidade dessa fibra. Se usarmos uma grande quantidade de fibra indigestível, ela fara o trabalho de efetividade e motilidade no rúmen, mas o animal não conseguira quebrar e digerir totalmente essa fibra. Então se possuir fontes de fibra, colhidas no tempo certo e que sejam de boa digestibilidade, o resultado na produção do animal será ainda melhor.

O uso de fenos e pré-secados cresce cada vez mais, pois ajudam muito no balanceamento da fibra na dieta, prevenindo casos de acidose ruminal e queda na gordura do leite. Devido à maior demanda do que oferta desses produtos, cada vez mais aparece fontes de feno e pré-secado de qualidade ruim. Eles precisam ser cortados no ponto ideal. Muitos produtores deixam passar do ponto de maturação para ter uma produção maior, isso resulta numa perda de qualidade, mais colmo (talo) do que folha, resultando numa grande quantidade de fibra indigestível, bem característica de plantas velhas, que passaram do ponto ideal de colheita.

O animal precisa de fibra efetiva, mas que seja uma fibra de qualidade e que possa ser absorvida. É preciso ficar atento à qualidade da pastagem e quantidade de feno fornecidos, pois o animal tem uma limitação física no rúmen para ingestão de alimento, caso ele faça a ingestão de muito feno, ele pode ficar saciado e não ingerir tanta pastagem, silagem e concentrado que também tem papel muito importante na nutrição do animal.

Imagem 01 – Peneiras usadas no método Penn State

Outro fator importante é o tamanho da partícula da silagem, alimento muito utilizado em nossa região. Se tivermos uma proporção muito grande de partículas abaixo de 8 mm, teremos pouco FDNfe, prejudicando a fermentação do rúmen e baixando muito seu pH. Para avaliação da partícula, tanto da silagem, quanto da dieta total, usa-se um jogo de peneiras que determina a porcentagem de fibra de acordo com seu tamanho, conforme tabela 01. Esse jogo de peneiras foi elaborado com base em muitos estudos e experimentos, objetivando encontrar o tamanho de partícula ideal para o melhor funcionamento do rúmen e produção animal.

Tabela 01 - Recomendações de porcentagens de alimento retido por peneira no método Penn State.

Para um bom funcionamento do rúmen, boa nutrição e eficiência produtiva, é preciso ser feito um acompanhamento da dieta total do animal, análises físicas e químicas dos alimentos disponíveis para determinar seu valor nutricional e capacidade de estimular ruminação. A partir disso, avaliar características da composição e produção do leite, e avaliar as fezes, podendo assim fazer recomendações se é preciso ou não aumentar a quantidade de fibra ou concentrado na dieta.

 

Fontes:

https://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/nutricao/fibra-efetiva-em-dietas-de-vacas-leiteiras-parte-i-avaliacao-teorica-15838n.aspx

http://nftalliance.com.br/artigos/bovinos-de-leite/novos-conceitos-para-a-formulao-de-rao-parte-2-como-os-alimentos-volumosos-e-o-seu-processamento-afetam-a-sade-ruminal-e-o-teor-de-slidos-no-leite

http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n020207/020718.pdf

https://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/nutricao/exigencia-de-fibra-para-vacas-em-lactacao-100397n.aspx

https://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/nutricao/fibra-fisicamente-efetiva-para-vacas-leiteiras-revendo-conceitos-29574n.aspx

https://www.milkpoint.pt/seccao-tecnica/forragens-pastagens/fibra-efetiva-para-vacas-leiteiras-aspectos-praticos-parte-i-103208n.aspx

SILVA, M. R. H.; NEUMANN, M. Fibra efetiva e fibra fisicamente efetiva: conceitos e importância na nutrição de ruminantes. FAZU em Revista, Uberaba, n.9, p. 69-84, 2012.

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