Parte I: Vale a pena fazer agrupamento?

Guilherme Fernando Mattos Leão
Médico Veterinário, MSc., Doutorando em Zootecnia (UFPR)
Consultor Técnico Auriverde

Quando se pensa em nutrição de vacas leiteiras, uma das dúvidas mais comuns seria: vale a pena fazer agrupamento (formação de lotes)? O questionamento vem por parte dos produtores que acabam vendo o agrupamento somente como um aumento na mão de obra. Embora a formação de lotes exija maiores cuidados no manejo, estes esforços acabam sendo compensados pelo melhor emprego do principal custo dentro de uma propriedade leiteira: a alimentação.

Pensando em um exemplo prático, vamos considerar um rebanho hipotético de 20 animais, com média de produção de 20 litros. O produtor em questão, fornece igualmente 4 kg de concentrado (“ração comercial”) por vaca/dia. No entanto, dentro deste rebanho, existem vacas que produzem 13 litros e vacas que produzem 27. Será que os 4 kg de concentrado estão sendo bem empregados? Vamos analisar estes dois extremos (Gráfico 1).

Gráfico 1. Balanço de energia de vacas recebendo 4kg de concentrado em uma dieta média composta por pastagem de verão, silagem de milho e concentrado comercial. *Dados calculados com base no software NRC (2001). Fonte: Elaboração do autor.

Percebe-se que a vaca com 27 litros está sendo prejudicada severamente por este manejo nutricional, devido a sua dieta estar aquém da sua exigência. Em decorrência disso, para manter o nível de produção a vaca começa a fazer lipomobilização, ou seja, emagrecer bruscamente. Isto tem impacto futuro tanto nos índices reprodutivos, pois vaca magra não reproduz, e também sobre os aspectos sanitários, pois vacas magras ficam mais sensíveis a doenças.

Por outro lado, as vacas de 13 litros estão com excesso de energia em suas dietas, sendo que isto, a médio prazo, leva as vacas engordarem muito. Isto também se constitui um problema pelo fato que, no momento da secagem, estes animais podem estar com escore de condição corporal (ECC) excessivo, o que pode gerar problemas no momento do parto.

O método mais correto para se evitar estes problemas é fazer o agrupamento. Existem diversas formas de agrupamento, no entanto, a mais efetiva tende a ser o agrupamento por produção, uma vez que a lactação proporcionalmente representa a maior demanda metabólica do animal. Sendo assim, o correto é fazer o controle leiteiro, e separar os animais em lotes com produções semelhantes, da forma mais homogênea possível de acordo com as limitações estruturais da propriedade.

Posteriormente, deverá ser feito o balanceamento da dieta para cada um destes lotes, com vistas a otimizar a produção de leite. Nesta fase, o auxílio de um profissional que faça a formulação das dietas é fundamental para que o processo em si tenha sucesso.

Por fim, com o ajuste correto das dietas de todos os lotes, o produtor consegue manipular racionalmente a alimentação, o item de maior custo dentro da sua propriedade. E a consequência disto, sem dúvidas, é a maior lucratividade da empresa leiteira, sendo que este será o assunto abordado na segunda parte deste artigo.