Geral

Fomento Leiteiro Auriverde: Controle biológico da cigarrinha das pastagens

Por: Hélio Prestes

Técnico Agrícola – CREA 61526-8

Dep. Técnico Fomento Leite Auriverde.

A intensificação da produção de leite requer o cultivo de forrageiras de elevada capacidade de produção de matéria seca e boa qualidade nutricional. Contudo, no Brasil, existem diferentes espécies de cigarrinhas infestando as pastagens, causando perdas significativas tanto no valor nutricional quanto na produtividade. As principais espécies das cigarrinhas das pastagens e suas características estão descritas abaixo. 

As cigarrinhas são insetos sugadores de seiva na planta. Os adultos vivem nas folhas das pastagens, enquanto que as formas jovens (ninfas) vivem na região do colo da planta (região entre o colmo e a inserção das raízes), protegidas por uma espuma branca (Figura 2A).

Os ovos são ovipositados pelos adultos no solo ou em restos vegetais. Estes insetos, principalmente os adultos, ao sugarem a seiva da planta injetam toxinas que levam ao amarelecimento das pontas das folhas e posterior secamento e morte (Figura 2B). Os prejuízos médios são de 20% na redução de produção de biomassa. Porém, há registro de redução de 30% na produção de matéria seca de Urochloa (Brachiaria) decumbens, infestada por 25 adultos/m2 de Zulia entreriana durante 10 dias (Valério e Nakano, 1988).

Além disso, há reduções significativas na produção de raízes de U. decumbens, o que afeta a persistência da gramínea. Quanto à qualidade nutricional, gramíneas severamente atacadas apresentam forragem com aumento no teor de fibra, redução na digestibilidade in vitro, reduções nos teores de proteína bruta, fósforo, magnésio, cálcio e potássio. Os danos à produção e qualidade da forragem determinam redução temporária a capacidade de suporte das pastagens.



Figura 1. Principais espécies de cigarrinhas das pastagens de ocorrência no Brasil
 

A densidade populacional de cigarrinhas das pastagens deve ser determinada através da amostragem de espumas e adultos. As espumas são amostradas através da contagem do número presente em área delimitada por quadrado, feito de vergalhão, de 0,5 m de lado. Os adultos são amostrados por dez batidas de rede de varredura sobre as folhas, ou pela observação visual do número de insetos pousados em dez plantas ou touceiras de pastagens afetadas.

Figura 2. Presença de espumas de cigarrinhas na base das plantas (A) e amarelecimento das pontas das folhas pela sucção de seiva dos adultos (B).


Controle microbiano de cigarrinhas das pastagens

O controle microbiano é outra forma de controle biológico de cigarrinhas das pastagens, a qual se baseia na aplicação do fungo Metarhizium anisopliae. O fungo funcionará como um bioinseticida, com a vantagem de não contaminar os animais. O M. anisopliae penetra através do tegumento da cigarrinha e coloniza seu interior, de onde extrai os nutrientes para seu desenvolvimento e reprodução, resultando na morte do inseto, cujo corpo se torna mumificado e coberto por hifas e esporos do fungo que irão contaminar outros insetos. Entretanto, a ação dos bioinseticidas é lenta, se comparada à ação dos inseticidas de choque, a morte do inseto ocorre num período superior a 48 horas.

O controle eficiente de cigarrinhas das pastagens por M. anisopliae exige um posicionamento correto das aplicações. Recomendamos aplicar o inseticida biológico a partir de 25 ninfas/m2 para que o fungo tenha como se estabelecer na área. Porém, em áreas com histórico de ocorrência de cigarrinhas no período chuvoso anterior, pode-se iniciar a aplicação a partir do surgimento das primeiras massas de espumas no início da nova estação chuvosa, para que a população da praga não cresça na segunda geração.

Não são recomendadas aplicações preventivas de M. anisopliae, sem a ocorrência da praga. No período de outono-inverno os ovos das cigarrinhas permanecem em “dormência” (quiescência), não ocorrendo ninfas (espumas) nem adultos, nesta fase a aplicação do fungo não é recomenda, pois irá perder muitos esporos e a eficiência de controle será baixa.



Integração de medidas visando maior eficiência do controle biológico

Considerando que grande parte das pastagens está em desequilíbrio ecológico, os resultados iniciais da ação do controle biológico sobre as pragas serão modestos, quando comparado com a ação de choque dos inseticidas químicos. Os resultados do controle biológico serão evidentes à medida que as áreas de pastagens propiciem condições de microclima favorável ao estabelecimento de entomopatógenos e haja um equilíbrio entre as populações de inimigos naturais e cigarrinhas das pastagens.

Isto será alcançado ao longo da aplicação de medidas que favoreçam a população de inimigos naturais e evitem o crescimento das populações das pragas. Para isso o controle biológico deve estar integrado a outras práticas, tais como: o plantio de forrageiras mais tolerantes e resistentes; a fertilização (calagem e adubação) e irrigação adequada das pastagens; o manejo adequado do resíduo pós pastejo – de modo a evitar a formação de macegas e sobra de pasto; a diversificação de pastagens com leguminosas; o uso de defensivos agrícolas e produtos veterinários seletivos aos inimigos naturais e microorganismos entomopatogênicos.

Pesquisas têm demonstrado a compatibilidade entre inseticidas e o fungo M. anisopliae, o que propicia maior controle das cigarrinhas das pastagens em todas as suas fases de desenvolvimento, haja visto que os bioinseticidas à base de M. anisopliae são mais eficientes no controle de ninfas, enquanto que os adultos estão mais expostos às aplicações inseticidas.



Figura 3. Integração de medidas visando o manejo integrado de cigarrinhas das pastagens.

 

Considerações Finais

A infestação de cigarrinha nas pastagens dos solos catarinenses vem ocorrendo de longa data e historicamente os locais infestados sofrem reinfestação na próxima safra, ou seja, planejar controles estratégicos na saída do inverno torna-se uma ferramenta muito eficiente no controle dessa praga.

 

Referências Bibliográfica

Cosenza, G.W. 1981. Resistência de gramíneas forrageiras à cigarrinha-das-pastagens, Deois flavopicta (Stal 1854). Brasília. Embrapa Cerrados, 16p. Boletim de Pesquisa n. 7.

Fernandes, F.D.; Marthe Jr., G.B.; Faleiro, F.G.; Gomes, A.C. 2005. Produção e valor nutritivo da forragem de clones de capim-elefante no Distrito Federal. Planaltina: Embrapa Cerrados, (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 158).

Souza, J.C.; Silva, R.A.; Reis, P.R.; Queiroz, D.S.; Silva, D.B. 2008. Cigarrinhas-das-pastagens: histórico, bioecologia, prejuízos, monitoramento e medidas de controle. Circular técnica n.42 EPAMIG.

Valério, J.R.; Nakano, O. 1988. Danos causados pelo adulto da cigarrinha Zulia entreriana na produção e qualidade de Brachiaria decumbens. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.23, p.447-453.

Valério, J.R.; Koller, W.W. 1993. Proposição para manejo integrado das cigarrinhas-das-pastagens. In: Curso Sobre Pastagens Para Sementeiros, Campo Grande. Campo Grande: EMBRAPA-CNPGC, p.31-46.

Vieira, A.C.; Haddad, C.M.; Castro, F.G.F.; Heisecke, O.R.P.; Vendramini, J.M.B.; Quecini, V.M. 1999. Produção e valor nutritivo da grama bermuda Florakirk (Cynodon dactylon L.) em diferentes idades de crescimento. Sci. agric. vol.56 n.4.

*Marcos Rafael Gusmão é Pesquisador de Entomologia Aplicada da Embrapa Pecuária Sudeste
 

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